segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Carlos Paredes

Curvo-me perante a genialidade deste génio incompreendido. Custa-me perceber que tenha morrido no esquecimento, que tenha desaparecido um mestre. O mestre. A genialidade com que dedilhava os acordes da guitarra portuguesa tornara-o único. E por muitos anos que passem, continuará a sê-lo. Se fosse vivo, completaria hoje 84 anos. A morte levou-o sem que tenha recebido a devida vénia pela magia que emprestava à música.

Do mestre disse Viriato Teles:
É, pois, normal que Paredes se espante, com as emoções que ele mesmo provoca junto de quem o ouve: «Já me tem sucedido fazer as pessoas chorar enquanto eu toco... E eu não compreendia isto, mas depois percebi que é a sonoridade da guitarra, mais do que a música que se toca ou como se toca, que emociona as pessoas.»

Um génio? Ele diz que não, que é apenas um homem igual aos outros, capaz de amar e de sofrer, de rir e de chorar. «Geniais são as pessoas que respeitamos muito Génio era Mozart.» Génio, génio grande e generoso, é este Carlos Paredes, digo agora eu. E o futuro que me desminta, se for capaz

Parabéns, Carlos Paredes.

2 comentários:

G. disse...

Bonita e justa homenagem, mas permite-me que discorde de ti (mais uma vez... Parece que só aqui escrevo para dar uso ao contraditório!).
Não acho que o Carlos Paredes tenha «morrido no esquecimento» e muito menos que se trate de um «génio incompreendido».
Deixo apenas alguns exemplos que dizem, precisamente, o contrário. Em 1992, durante a Expo de Sevilha, Carlos Paredes actuou na principal sala de espectáculos da Exposição, que encheu completamente para ver o Mestre. Em 2003 foram lançados um livro (edição conjunta da Oficina do Livro, do jornal Público e do colectivo Movimentos Perpétuos) e um disco duplo no qual participam, entre outros, Gaiteiros de Lisboa, Mário Laginha, Belle Chase Hotel, Dead Combo, Rodrigo Leão, António Pinho Vargas... Em 2006 sai o filme «Movimentos Perpétuos: Cine-Tributo a Carlos Paredes», realizado por Edgar Pêra.
Além de tudo isto, posso dizer-te que os últimos anos de vida do Mestre foram passados de forma muito recatada, devido à doença de que padecia, por opção da sua família mais próxima e do próprio. Ainda antes de falecer, a 23/07/2004, foi alvo das mais variadas homenagens. Quando faleceu foi decretado luto nacional. Pode ser pouco, mas é mais do foi feito por muitos outros.
Pronto, aqui fica o meu contributo. Abraço!

Batista disse...

Não sabes como te agradeço este contributo. Acho que esta segunda-feira fomos os únicos a lembrar esta efeméride. Eu pelo menos não vi, nem li, nem ouvi em lado nenhum qualquer referência a Carlos Paredes. Como eu gostava de poder concordar contigo.

Todos esses momentos que recordaste não são mais do que o percurso de quem afinal era genial. Mal seria se não tivesse, por mérito próprio, direito a eles. O que digo é que por natureza não sabemos mostrar gratidão por quem é único. E o rol de nomes é vasto...é enorme! Podia ter tido mais 123 filmes sobre si, que continuaria a não ver assumida a sua importância para uma franja da nossa cultura.

Dele se diz que deveria haver "Vergonha perante as dificuldades que passou, perseguições que sofreu, estímulos que não teve, oportunidades que lhe foram negadas, esquecimento a que foi abandonado, gratidão que não encontrou. Vergonha perante a nobreza e a generosidade com que apesar de tudo continuou sempre a dar-se-nos integralmente".

Abraço Guedes