sexta-feira, 30 de julho de 2010

António Feio (1954-2010)



Perdoem-me se parece demasiado óbvia a publicação deste vídeo, mais para mais no dia de hoje. Mas entendo que nada óbvio seria não publicar nada, não fazer uma única referência a uma das figuras que mais admirava no panorama humorístico nacional. Curiosamente nunca o vi actuar ao vivo senão com a sua banda, algures no Casino de Lisboa, a que pomposamente chamou de "Feio & Friends". Mas como admirava esta interacção com o "inseparável" José Pedro Gomes. Única. Naquele que foi seguramente o cenário mais minimalista da comédia nacional, aquele corpo esguio enfiado num colete pele de vaca era meio caminho para sucesso garantido. Um cenário negro carregado e dois sofás. O talento de António Feio cuidava do resto. E não era pouco.

Fala-se da morte de António Feio com a proximidade de quem acompanhou parte da carreira, com a admiração por quem sobretudo não queria partir já e que lutou por isso até ao fim. Mas a luta é por vezes inglória e as armas são brutalmente desiguais quando o oponente tem a dimensão de um cancro.

Recorde-se António Feio como um dos grandes vultos da comédia nacional, mais um dos que vão deixar seguramente um buraco enorme na cultura nacional já por si tão depauperada depois do desaparecimento de Raúl Solnado há tão pouco tempo. Não sei se isto é culpa de Deus. Não acredito nesses raciocínios. Mas acreditando, imagino que tenha pedido instruções a Mourinho e escolhido criteriosamente os melhores.

António Feio, lembrado pelo que fez nos palcos, na televisão, deve ser sobretudo lembrado pelos que por cá ficam e a sua força de vontade deve ser encarada como um estímulo para que todos possamos fazer a nossa parte no apoio a quem mais precisa. Os que percorrem diariamente os corredores das alas oncológicas nos hospitais são seguramente anónimos para muitos, mas pilares de tantas famílias. A cultura está mais pobre.
Aplaudo de pé, como se reconhecem os grandes artistas! Obrigado, António Feio

"Não tive uma vida má. Não tenho nenhum problema em morrer. [pausa] Não me apetece muito. Mas se me dissessem: "Vais morrer amanhã!", "Olha, paciência."
António Feio, em entrevista ao Público

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