quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

É simples !

O olhar compenetrado e o sorriso matreiro só podia denotar que alguma coisa tinha sido feita, ou então algo estava por fazer. Quem sabe um pouco das duas, à escala do pequeno génio.

-Tio, já combinei com os meus colegas. Nenhum deles vai dizer nada, mas eu gosto de uma rapariga da minha escola e vou começar a deixar-lhe algumas mensagens na mochila...tipo...com pistas...

-Mas... e como vais conseguir deixar-lhe os bilhetes?

-Durante a hora de almoço. Está tudo estudado.

-E sabes se ela gosta de ti?

-Sei lá. Mas olha, vou-lhe deixando pistas de vez em quando. Já tenho uma: "Sou português!! Queres namorar comigo ? Sim ou Não ?"

-Hmmm...não achas que deverias dar-lhe mais algumas dicas?

-Não sei o que hei-de escrever mais ! (e encolheu os ombros, rendendo-se ao real objectivo da sua missão!)


Se calhar não há mesmo nada a dizer. Tudo estava tão meticulosamente estudado, e o entusiasmo era tão visível no olhar do pequeno, que não tive sequer decência de lhe dizer o que quer que fosse! E lá foi ele, com sentido de missão cumprida, indiferente à visão calculista que lhe apresentei. Exagerada, por sinal. Pelos vistos, tudo pode ser bem mais simples. A simplicidade, afinal, pode estar ao alcance do que quisermos fazer dela !

Ahh..eu contribui para o quadro...ofereci-lhe o envelope para colocar a carta!

2 comentários:

Anónimo disse...

Tão querido quisera eu um dia receber um recadinho desses de um menino qualquer e aidna por cima com envelope...mas porque raio crescemos nós se a "simplicidade" vai desaparecendo ao longo dos anos!
Rb

Patricia disse...

Lindo. A verdadeira beleza da inocência das crinaças. Que nunca niguém lhes tirasse essa vontade de acreditar, de simplificar, de pura e simplesmente... sentir, sem complicações, sem medos. E é tão bom quando eles nos enchem o dia com palavras tão simples e verdadeiras. Parabéns Francisco. Descobriste o amor.

"Ocorre-me agora
a pupila minúscula de uma criança
A sua engenharia
desde o corpo na guerreira pequenez
ao dedo provador da boca.
Ocorre-me esta criança
este monge da franqueza em seu templo de inocência
Amo-a. Vivo-a.
.
Voar é poder amar uma criança.
Sonhar-lhe o peso no colo, as mãos acariciantes
sobre a palma da alma.
.
Voar é tardar a boca
na rosa do rosto de uma criança.
Pronunciar-lhe a ternura,
a seda fresca e pura
da sua infância.
.
Voar é adormecer o homem
na mão sonhadora
de uma criança."

Eduardo White