
É nestas alturas que me sinto um verdadeiro calhau baptizado. Tipo, que levantaram uma pedra e que, por coincidência das coincidências eu era o próximo da fila prestes a sair lá de baixo.
Estranhei tanta celeuma em torno da noticia. Não me prendeu a atenção minimamente quando a li, na tarde deste Domingo. Certo é que horas mais tarda, já a noite caíra, a RTP2 "espetou-me pelos olhos adentro" aquele tipo de documentário que vão escasseando, e que por infelicidade apenas lhes damos o devido valor quase que a título póstumo.
Não conhecia esta personalidade. Mesmo. Não ouvi falar antes. Porque não calhou, possivelmente. Porque não me calhou, também é provável.
Irrita-me que isso aconteça. Ou melhor, deixa-me severamente incomodado que passemos "tanto" do "nosso" tempo a deitar abaixo a cultura e as cabeças pensantes portuguesas, que nos chega a escapar a memória, toldada pela injustiça e pelo hábito surreal de valorizar o que jaz morto e arrefece, de tantos e tantos valores.
Morreu Luiz Pacheco. Desconhecia que existia um homem que praticamente todos admiravam, precisamente pela irreverência que teimava em manter, sem a preocupação de lamber as botas a quem quer que fosse, e sobretudo, cuja ambiguidade de opiniões se encarregava de separar quem o seguia de quem o desprezava.
Disse, a certa altura, numa entrevista à revista K, uma das raras entrevistas algo como:
K: Mas a ideia que eu tenho é que o Saramago vale um pouco mais que o Namora.
.
É pá! Nem me digas isso, pá, o Namora é abaixo de cão, nem é abaixo de Namora, é abaixo de cão, isso eu escrevi!
"Luiz Pacheco é [era] um paradoxo de duas pernas". Esta é apenas uma das definições atribuídas ao homem/ escritor/ editor/ crítico literário que, tal "como um meteorito, passou pelo céu de Lisboa, rebentou e ficou em milhares de pedaços incandescentes, que foram caindo, e ainda hoje caem..." Mas qualquer definição que se atribua a Luiz Pacheco será sempre insuficiente face a um percurso que se pode considerar simultaneamente trágico e cómico. Um percurso que só agora conheci.
Ao bom velho estilo de quem teima em honrar os heróis, a título póstumo. E isso irrita-me. Ou melhor, incomoda-me severamente !
Foto retirada do blog Instante Fatal
Sem comentários:
Enviar um comentário